O que é o recall e como funciona?
O recall, termo em inglês que significa “chamada de volta”, é um procedimento em que fabricantes pedem que consumidores retornem um produto para corrigir problemas técnicos. No setor automotivo, os recalls são comuns e buscam solucionar falhas que podem comprometer a segurança.
A responsabilidade de realizar o recall é totalmente da fabricante do veículo. Ela deve oferecer o reparo gratuitamente, garantindo a qualidade do serviço. Além disso, órgãos como o Procon e o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) exigem que a montadora divulgue o recall para alcançar o maior número possível de proprietários.
Após identificar um problema de fabricação, a montadora pode comunicá-lo das seguintes formas:
- Cartas enviadas ao proprietário cadastrado no Detran;
- E-mails ou mensagens de texto;
- Divulgação em jornais e mídias digitais.
Principais casos de recall no setor automotivo
Ao longo dos anos, diversos casos se destacaram pela gravidade dos defeitos e pelo número de carros afetados. A seguir, confira alguns dos mais famosos.
Recall da Toyota: problemas no pedal do acelerador
Em 2009, a
Toyota enfrentou um dos maiores recalls de sua história devido a problemas no pedal do acelerador. O defeito fazia com que o pedal ficasse preso, causando a aceleração involuntária dos veículos. Essa falha levou ao recall de aproximadamente 3,8 milhões de carros nos Estados Unidos, incluindo modelos como Camry, Corolla e Avalon.
No Brasil, o Ministério da Justiça determinou o recall do modelo Corolla em 2010, após relatos de aceleração involuntária. A Toyota do Brasil negou inicialmente a possibilidade de aceleração involuntária, atribuindo o problema a falhas de fixação no tapete.
Airbags defeituosos da Takata
Outro caso de grande repercussão foi o dos
airbags defeituosos fabricados pela empresa japonesa Takata. O problema estava relacionado a um defeito no insuflador do airbag, que poderia explodir e lançar fragmentos metálicos dentro do veículo, causando ferimentos graves ou até fatais.
Estima-se que mais de 100 milhões de veículos de diversas montadoras foram afetados globalmente, incluindo marcas como Honda, BMW e Nissan.
No Brasil, mais de 5 milhões de carros foram convocados para substituir a peça defeituosa.
O caso voltou ao noticiário em 2024 devido a novas mortes causadas pelo defeito.
Recall da general Motors: ignição defeituosa
Em 2014, a General Motors (GM) anunciou um recall envolvendo 2,6 milhões de veículos devido a um defeito no sistema de ignição. O problema fazia com que o carro desligasse inesperadamente, desativando sistemas indispensáveis como direção hidráulica e airbags. Esse defeito resultou em pelo menos 13 mortes nos Estados Unidos.
A GM enfrentou críticas por ter demorado anos para reconhecer o problema e iniciar o recall, o que gerou multas e processos judiciais.
Consequências de ignorar um recall
Embora a função do recall seja corrigir falhas e garantir a segurança, muitos proprietários ignoram o chamado, seja por falta de tempo ou por acreditarem que o problema não é grave.
Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), divulgados em setembro de 2024, cerca de 3,4 milhões de recalls não foram atendidos no Brasil, mostrando a gravidade da situação. Essa omissão pode trazer sérias consequências, como:
Riscos à segurança
O principal objetivo do recall é proteger a segurança dos motoristas, passageiros e outros usuários das vias. Ignorá-lo significa continuar utilizando um veículo com potencial de falha, que pode causar acidentes graves.
Prejuízo financeiro
Ignorar um recall pode gerar custos inesperados. Se a falha do veículo não corrigida causar um acidente, o proprietário pode ser responsabilizado pelos danos. Além disso, um problema que poderia ser resolvido gratuitamente no recall pode se agravar e exigir reparos custosos no futuro.
Impacto no licenciamento
Não atender a um recall dentro de um ano faz com que essa pendência seja registrada no CRLV, impedindo o licenciamento ou outros procedimentos administrativos, como transferência de propriedade. Dirigir com o CRLV vencido é infração gravíssima, com multa de R$ 293,47, sete pontos na CNH, possibilidade de apreensão do veículo e inclusão do nome na dívida ativa.
Recall e o impacto no seguro auto
Uma dúvida comum entre motoristas é se a omissão de um recall pode afetar o seguro auto. A resposta é: sim, pode. Aqui estão os principais pontos que explicam essa relação:
Cobertura em caso de acidentes
Seguradoras analisam as condições do veículo no momento de um sinistro (acidente ou outro evento coberto). Se for comprovado que o acidente ocorreu devido a uma falha que deveria ter sido corrigida no recall, a seguradora pode se recusar a cobrir os danos. Isso ocorre porque a manutenção do veículo em boas condições é uma responsabilidade do proprietário.
Avaliação de risco
Ao contratar um seguro, a seguradora avalia diversos fatores para determinar o risco associado ao veículo e ao motorista. Um histórico de recalls ignorados pode ser interpretado como falta de cuidado com o carro, aumentando o risco percebido pela seguradora e, consequentemente, o valor do prêmio.
Desvalorização do veículo e impacto na indenização
Se o veículo não estiver em conformidade com os recalls obrigatórios, seu valor de mercado pode ser menor. Isso pode influenciar diretamente no cálculo da indenização em caso de perda total.
Como saber se meu veículo está incluído em um recall?
Existem formas simples de conferir se o carro tem algum recall pendente. Para isso, você pode acessar o
portal do Senatran ou o aplicativo da Carteira Digital de Trânsito (CDT). Em seguida, basta informar a placa ou o chassi do veículo.
É importante saber que o portal registra apenas os recalls divulgados a partir de 20 de abril de 2011. Para consultar chamados anteriores a essa data, o proprietário precisa entrar em contato diretamente com o fabricante.